terça-feira, 13 de outubro de 2009

Platônico

O Mito
Carlos Drummond de Andrade

Sequer conheço fulana,
Vejo fulana tão curto
Fulana jamais me vê,
Mas como amo fulana.

Amarei mesmo fulana?
Ou é ilusão de sexo?
Talvez a linha do busto,
Da perna, talvez o ombro.

Amo fulana tão forte,
Amo fulana tão dor,
Que todo me despedaço
E choro,menino, choro

Mas fulana vai se rindo...
Vejam fulana dançando
No esporte ele está sozinha
No bar, quão acompanhada.

E fulana diz mistérios,
Diz marxismo, rimmel, gás.
Fulana me bombardeia,
No entanto sequer me vê.

E sequer nos compreendemos,
É dama de alta fidúcia,
Tem latifúndios, iates,
Sustenta cinco mil pobres,

Menos eu...que de orgulhoso
Me basto pensando nela
Pensando com unha, plasma,
Fúria, gilete, desânimo.

Amor tão disparatado,
Desbaratado é que é...
Nunca a sentei no meu colo
Nem vi pela fechadura.

Mas sei quanto me custa
Manter esse gelo digno,
Essa indiferença gaia, e não gritar:vem, fulana!

Como deixar de invadir
Sua casa de mil fechos
E sua veste arrancando
Mostrá-la depois ao povo

Tal como deve ser:
Branca, intata, neutra, rara,
Feita de pedera translúcida,
De ausência e ruivos ornatos.

Mas como será fulana,
Digamos, no seu banheiro?
Só de pensar em seu corpo,
O meu se punge...pois sim.

Porque preciso do corpo
Para mendigar fulana,
Rogar-lhe que pise em mim,
Que me maltrate...assim não.

Mas fulana será gente?
Estará somente em ópera?
Será figura de livros?
Será bicho? saberei?

Não saberei? só pegando,
Pedindo: dona, desculpe,
O seu vestido, esconde algo?
Tem coxas reais? cintura?

Fulana às vêzes existe
Demais: até me apavora.
Vou sozinho pela rua,
Eis que fulana me roça.

Mas não quero nada disso.
Para que chatear fulana?
Pancada na sua nuca
Na minha que vai doer.

E daí não sou criança
Fulana estudo meu rosto
Coitado: de raça branca
Tadinho: tinha gravata

Já morto, me quererá?
Esconjuro, se é necrófila...
Fulana é vida, ama as flores,
As artérias e as debêntures.

Sei que jamais me perdoara
Matar-me para servi-la.
Fulana quer homens fortes
Couraçados, invasores.

Fulana é tão dinâmica
Tem um motor na barriga.
Suas unhas são elétricas,
Seus beijos refrigerados,

Desinfetados, gravados
Em máquina multilite.
Fulana, como é sadia!
Os enfermos somos nós.

Sou eu, o poeta precário
Que fêz de fulana um mito
Nutrindo-me de petrarca,
Ronsard, camões e capim;

Que a sei embebida em leite,
Carne, tomate, ginástica
E lhe colo metafísicas,
Enigmas, causas primeiras.

Mas, se tentasse construir
Outra fulana que não
Essa de burguês sorisso
E de tão burro esplendor?

Mudo-lhe o nome: recorto-lhe
Um traje de transparência;
Já perde a carência humana
E bato-a; de tirar sangue.

E lhe dou todas as faces
De meu sonho que especula;
E abolimos a cidade
Já sem peso e nitidez.

E vadeamos a ciência,
Mar de hipóteses.a lua
Fica sendo nosso esquema
De um território mais justo.

E colocamos os dados
De um mundo sem classe e imposto;
E nesse mundo instalamos
Os nossos irmãos vingados:

E nessa fase gloriosa,
De contradições extintas,
Eu e fulana, abrasados,
Queremos...que mais queremos?

E digo a fulana: amiga,
Afinal nos compreendemos.
Já não sofro, já não brilhas,
Mas somos a mesma coisa

( uma coisa tão diversa da que pensava que fossemos.)


Um colega uma vez me disse que quando nos "apaixonamos" projetamos a nossa alma no ser amado.
Eu procurei algo sobre isso na internet... tem relação com Anima (homem - mulher) e Animus (mulher - homem). É um tanto quanto complicado... o que eu consegui despreender disso tudo é que isso não passa de uma idealização exacerbada.
Projetamos na outra pessoa tudo aquilo que gostaríamos que ela tivesse.
Procurei também sobre o famoso "Amor platônico", que, pelo que pude ler, não tinha, inicialmente, a mesma concepção que carrega hoje.
O Amor Platônico é algo ideal... desprovido do caráter sexual... e pode também ser confundido com a amizade.
Diferente do amor "Socrático" que era mais carnal... bem... foi algumas coisinhas que eu achei pela internet... embora não confie muito na veracidade das informações... servem de base né?! ;D
O Amor Platônico é visto como algo que nunca pode ser efetivado... porque o simples fato de amar já basta.
É normal na adolescência e até fora dela, eu posso exemplificar muito bem isso, se amar platonicamente alguém... um artista, um professor, alguém que se vê no ônibus (;D)...
Amigos... nee... por que não?
Acho que esse tipo de amor é até importante pro crescimento pessoal do ser humano (???)... mas... quando sadio...
Tem horas que tudo fica muito intenso, muito perigoso... possessão, ciúmes exagerado...
Enfim... já me apaixonei assim... sinceramente... não sei direito o que é me apaixonar... olhar um cara lindo passando (no ônibus, todo dia, oeee... xDDD), olhar aquele artista maravilhoso (Jared, me joga no google, me chama de pesquisa e diz que eu sou tudo que você procurava)... se esse sentimento é paixão platônica... é até gostoso de sentir...
Mas... aquele carinha... que dói no coração de ver... que nunca vai estar do seu lado (James Blunt mode on)... aí... não é bom não... =S
De qualquer forma... escrevi muito... xDDDD

Carinha do ônibus... ESSA É PRA VOCÊ... huahuahauahua... xDDDDDDDDD... s2...

Continuem a nadar! xD~

Bjks =*

3 comentários:

Anônimo disse...

Mana... Tudo o que você escreveu está certo... Nunca me apaixonei... Já tive várias dúvidas se realmente já amei alguém ou não...
Talvez sim, já que o coração dói... Amor platônico é algo que pode ser chamado de "algo compartilhado em todos" e acho que isso nos torna humanos...

Se ser humano é amar... Amar nos faz sofrer... E o sofrimento prova que estamos vivos...

Acho que isso virou uma frase meio masoquista, mas fazer o que! -Q

Sua opinião é igual a minha nesse assunto, mas assim como para mim, espero que para você... Espero que para nós, não precisamos descorbrir a pergunta sobre tudo isso, mas apenas a resposta...

Gostei muito do post. Parabéns!

Beijos =***

Lili disse...

Eu concordo com você Maika, em tudo
mas as vezes eu concordo com o DK XD

Mirai Hikari disse...

Dinheiro>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>Amor
Com grana, voce compra milhões de amores, fik dik

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